A luta não é por absorvente. É por saúde e por direitos.

Carla de Carvalho, pedagoga, especializada em gestão de pessoas e viabilidade de projetos e em psicopedagogia clínica e institucional e coordenadora do Centro de Defesa dos Direitos Humanos de Petrópolis

 

No Brasil, milhões de meninas carecem de infraestrutura e itens básicos para cuidados menstruais, dentre tantos outros cuidados de que necessitam.

Neste mês de março, mês internacional da Mulher, o Centro de Defesa dos Direitos Humanos de Petrópolis une todas as lutas da organização como direito à vida, luta contra a violência doméstica, direito ao trabalho, a salários iguais em mesmas funções e atividades, à equidade de gênero, contra o racismo, pela saúde da mulher à distribuição de absorventes para mulheres e adolescentes que perpassem pelas atividades desenvolvidas pela organização direcionadas à pauta feminina.  Não se trata somente do absorvente, mas de uma pauta abrangente que passa pela questão social, racial, educacional, política e principalmente, de gênero.

De acordo com o estudo “Pobreza Menstrual no Brasil: desigualdade e violações de direitos”, realizado pelo Unicef, 713 mil meninas vivem sem acesso a banheiro ou chuveiro em seu domicílio e mais de 4 milhões não têm acesso a itens mínimos de cuidados menstruais nas escolas.

A pobreza menstrual é caracterizada pela falta de acesso a recursos, infraestrutura e até conhecimento por parte de pessoas que menstruam para cuidados envolvendo a própria menstruação.

A pobreza menstrual afeta brasileiras que vivem em condições de pobreza e situação de vulnerabilidade em contextos urbanos e rurais, por vezes sem acesso a serviços de saneamento básico, recursos para higiene e conhecimento mínimo do corpo. Os resultados demonstram negligência e falta de acesso a direitos em boa parte do País.

Além de privação de chuveiros em suas residências, 4 milhões de meninas sofrem com pelo menos uma privação de higiene nas escolas. Isso inclui falta de acesso a absorventes e instalações básicas nas escolas, como banheiros e sabonetes. Dessas, quase 200 mil alunas estão totalmente privadas de condições mínimas para cuidar da sua menstruação na escola.

As meninas brasileiras também estão sob situação de grande vulnerabilidade envolvendo outros serviços básicos que são essenciais para garantir a dignidade menstrual: 900 mil não têm acesso a água canalizada em seus domicílios e 6,5 milhões vivem em casas sem ligação à rede de esgoto.

O fenômeno é afetado por outras variáveis envolvendo a desigualdade racial, social e de renda. Uma família com maior situação de vulnerabilidade e renda menor tende a dedicar uma fração menor de seu orçamento para itens de higiene menstrual, uma vez que a prioridade é a alimentação. De acordo com o estudo, a chance de uma menina negra não possuir acesso a banheiros é quase três vezes a chance de encontrarmos uma menina branca nas mesmas condições. Além disso, enquanto cerca de 24% das meninas brancas residem em locais avaliados como não tendo serviços de esgotamento sanitário, quase 37% das meninas negras vivem nessas condições.

“A menstruação é uma condição perfeitamente natural que deve ser mais seriamente encarada pelo poder público e as políticas de saúde. Quando não permitimos que uma menina possa passar por esse período de forma adequada, estamos violando sua dignidade. É urgente discutir meios de garantir a saúde menstrual, com a construção de políticas públicas eficazes, com a distribuição gratuita de absorventes, com uma educação abrangente para que as meninas também conheçam seu corpo e o que acontece com ele durante o ciclo menstrual. É o básico a ser feito para que ninguém fique para trás”, observa Astrid Bant, representante do UNFPA no Brasil.

Além das meninas e mulheres que sofrem com a negligência com relação à situação social e de saúde pública que envolve a menstruação, é preciso educação para todos e todas neste sentido, mas que meninos, rapazes e homens aprendam a naturalizar e respeitar este momento fisiológico das mulheres, não fazendo desta força da natureza e expressão do próprio corpo um tabu, uma vergonha. Toda a natureza, o corpo, as escolhas, as especificidades femininas devem ser respeitadas e consideradas pela sociedade e garantidas pelas políticas públicas.

07/03/2023

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